sexta-feira, 3 de junho de 2011

leite da Virgem

ser humano máquina
estudar (uma pena se você é um inútil com os números) (um dia o professor disse que eu nunca sairia da escola) (malditos números-equações-frações-jogo-da-velha) – especializar-se (e aí você estuda mais) (mas não tem mais matemática, ufa!) – trabalhar – contas – casar – filhos (onde eles irão estudar?) (como transformar criaturinhas da natureza de maldade em pessoas como as que desejamos ser?) (e não conseguimos) (mas eles podem talvez eles possam)
ser humano estando humano
carne alucinação suor – o esqueleto quase não agüenta – dor desespero colapso merda porra foda
treme-pisca-treme não tem razão
impulso
vontade
prazer prazer prazer prazer
com quantas pílulas você constrói uma escada que leva para o alto?
preocupações
deixo de estar
viro robô
mais algumas gotas, até o sono vir
lixo lixo, sonhos de lixo não quero dormir
nem acordar
fui para os ares todo o meu ser-alma-essência pelos poros
busca pelo fantástico quantas quantas fantasias!
bosta
é a realidade bateu na porta
coça coça alergia
alergia?
da realidade
e os sonhos coçam
pensamentos coçam mas não quero ser máquina
pílulas mais pílulas
brancas azuis amarelas rosas
tem em gotas também
pingam pingam pingam
uma grande piscina cheia cheia de gotas que a deixam
cheia
coça
caço
caço um lugar que não coça
um lugar de
descanso
uma corda
instalação forte para suportar o
peso
da corda?
e o meu
(Paula Sanches)

Isso não são só letras. Não é só semântica, significante ou forma. Nem fenômeno só é, porque ainda é algo tão além de algo observador-fenômeno. Isso é xamanismo, poesia-coletiva, zeitgeist.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

cerâmica

Forrou o círculo plástico (mais ogival que qualquer arco gótico metido a besta) como uma mãe forra o filho à noite. Forçou todos os neurônios com uma tensão muito mais que guerra fria pra poder relaxar cada célula do anel fibroso. Tateou o volume em si, sentiu cada ângulo como a reta que tangencia o círculo. O sentiu fluir como a letra de uma canção, como uma idéia neonazista. Deu à água. Ouviu o impacto: 330 m/ s; Sentiu o frio invadir seu interior: energia potencial. Continou como que num processo de partenogênese. Quando satifez a criação, viu tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom. Inclinou-se, e disse: "dominais sobre os peixes do mar", quando promoveu-se o esvair horário.