segunda-feira, 3 de outubro de 2011

E aí que o filme acaba. Os créditos passam, a música finda, e a vida clama. O ciclo recomeça. A pausa excepcional se encerra, e tudo volta ao habitual. Não adianta secar as lágrimas, elas marcam a pele. Elas marcam a alma. Não adianta fugir da vida, do passado, tentar ignorar o futuro-presente. Tudo clama, e nem os surdos são capazes de obliterá-lo. Obliteração. A vida é assim, rumos tortos, perspectivas irracionais. E querer negá-lo é bobagem. Nossa teatralidade é um espelho. Não adianta fingir de tudo fantasia, pois estamos somente a nos ver. Somos palco, ator, e plateia. E os laços sociais mantém o apego. Pois sem o apego, se permite ao barco velejar sem destino, se deixar levar pela maré de nuvens... até que um dia esteja geograficamente perdido - pois todo barco perdido o já é em potência; todo barco que se perde no mar, já perdido era ancorado na costa. Só nos resta juntar a mão no rosto e esperar que as lágrimas percorram o caminho da vida o quanto antes, pois o passado brada tão forte que afugenta o futuro.

Não adianta chorar pela companhia ausente. Sentar e descobrir que seu único confidente era mudo de palavras e hoje mudo de vida não é acalentador. Então, não me peçam pra deixar passar. Não me peçam, por favor, pra ser forte. Porque fortitude implica fraqueza. E já sei de todas as minhas fraquezas, deixem-me ser fraco para poder encontrar forças em algum lugar.

Antes eu não colocaria esta foto, mas seria muito desrespeito.


Não foi uma erupção, um incêndio, uma bomba atômica... foi só uma brasa... que a cada suspiro, revive. "Só dói quando eu respiro".

A Viagem de Chihiro - Vagão de espíritos
Às vezes a vida é assim... um vagão de lembranças translúcidas que rumam em trilhos submersos. Cada qual apegado a sua própria bagagem, cada qual com sua própria teleologia.
Um hora no filme, em que Chihiro vai tentar uma empreitada pra salvar os pais, ela fala: "Eu não sei se eles realmente valem o esforço". Veja bem. Ainda que não sejam os melhores pais do mundo, ela se arrisca, chora, faz de tudo para salvá-los. Ela não procura salvar somente seus pais, sua figura, mas sim sua vida. E aí a gente se percebe nesse dilema. "Eu não sei se vale o esforço". Chihiro entra num novo mundo sem amigos, sem um lugar seguro, sem promessas. Sai de lá repleta de amigos, repleta de histórias, sai de lá com um amor verdadeiro. Mas ainda assim volta pra imperfeição de sua outra vida. Muito triste a parte em que Lin a pede para voltar antes de Chihiro pegar o trem. Vocês percebem como Chihiro era uma significação à vida? Muitíssimo triste ver o escravo da fornalha lhe dando as passagens de trem que guardou por 40 anos. Ela era uma significação a ele também. A única lembrança física que Chihiro leva de volta é a "gominha de cabelo" tecida pelos seus amigos. Acho que A Viagem de Chihiro é um filme que catalisa muito bem o que é toison d'or (pastel seco, o bastão de desenho que se parece com um giz) na vida - o passado, a infância e a fantasia.

Aí, tudo o que resta é respirar... ainda que doa, que todas as vezes a brasa arda e o coração aperte, é necessário se ventilar e se deixar mudar de ser, pro passado passar e pro futuro bradar. Ninguém lerá, mas...


bonjour, bonheur.
joyeux anniversaire, tristesse.

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