sexta-feira, 8 de abril de 2011

Análise Pelicográfica #7 - "Salò o le 120 giornate di Sodoma" (1975)


Título traduzido: Saló ou Os 120 dias de Sodoma
Direção: Pier Paolo Pasolini
Gênero: Drama, Comédia, Explotation

Origem: EUA
Diálogo: Italiano (majoritariamente) , Francês e Alemão
Duração: 1 hora e 51 minutos segundo a Wikipédia
Cor: Colorido
Link: Com esta postagem eu brindo a inclusão do Cinema Cultura na blogrolla (ou da blogrolla no Cinema Cultura, depende do ponto de vista). Sentimo-nos lisonjeados, palmas!, palmas!.



Spoilers! Esta é, inegavelmente, uma magnum opus. Não consegui definir se Pasolini quis, com tamanho explotation, destilar o "espírito" do nazifascismo, que se assenta na bestialização do homem, ou se ele o retrata "ao avesso".        


 Na primeira assertação, é singela a premissa: a partir a desumanização das pessoas com tantos abusos, assassinatos, torturas e horrores amiúde, os próprios nazifascistas se bestializavam. A coprofagia, o gosto pela tortura, a necessidade de subjulgar as normas sociais e a sodomia* são todos vistos nas bestas. Assim, quando Pasolini representa toda a anarquia** gerada pelos personagens poderosos, ele não tem a mesma intenção de John Waters, outro grande nome do Explotation. Enquanto o ideal maior de Waters é chocar a hipócrita, moralista - e com os primeiros traços do que hoje seria a voga do "politicamente correto" - sociedade estadunidense, Pasolini busca apropriar-se dos exageros como ícones à real alta sociedade nazifascista.
*Quando me refiro a sodomia, quero dizer do estupro não-copulativo. Ou seja, de estupros que não tenham a intenção de gerar crias, tal qual no mundo animal, onde diversas vezes um ser aproveita do outro para satisfazer seus hormônios, quando não podendo consumir a cópula efetiva.
**Citando um excelente diálogo aos 38:13 minutos: "Observando, com igual paixão e apatia, Guido e Vaccari masturbando os dois corpos que nos pertencem, inspira um número interessante de reflexões. [O Magistrado então pede: "Importaria-se de se explicar melhor, caro Duque?", que então retoma] Nós fascistas, somos os verdadeiros anarquistas. Naturalmente, uma vez que nos tornamos mestres do estado, a verdadeira anarquia vem do poder.". Logo, a extensão do poder gerada pelo acordo das quatro personagens poderosas ilimita suas vontades. A anarquia é, evidentemente, usada no sentido de "superioridade ou não-respeito às leis cívicas e normas sociais".


 Com a segunda hipótese, a qual Pasolini faria um "retrato avesso" do nazifascismo. Pois vejamos bem: um dos principais fundamentos do nazifascismo é o respeito e sublevação do sujeito ao Estado e/ou a sociedade. Gerando uma mescla de ambos, tal qual em regimes teocráticos onde a maioria da população é adepta da religião oficial, as normas sociais, ou seja, a distinção entre aquilo que é aceito ou excluído pela sociedade, é normativizado legislativamente. Tal qual a sociedade alemã machista e homofóbica da República de Weimar rejeitava, a política nazista do Terceiro Reich condenaria homossexuais aos campos de concentração. Mas, enquanto primava pela saúde daquilo que considerava humano, o nazismo se intoxicava com a degradação de todo o restante. A vocês, não parece contradição? Eles se apoiavam num conjunto de leis morais e numa pseudo-ciência (o darwinismo social tinha diversas falhas que o condenavam desde o nascimento) hipócrita e completamente bestial, que simplesmente anulava tudo aquilo que não convinha. Assim, enquanto eles pregavam o que era humano ou não, seus atos de selvageria há muito comprovavam sua desumanidade. E Pasolini mostra isso expondo um "negativo" da moral fascista e conservadorista no norte da Itália durante a ditadura de Mussolini.


Enfim galeras, apesar de forte e blablabla, é um filme recomendadíssimo. Mesmo com toda sua carga, intimidador e visceral, Saló consegue ser um filme bonito. A quem convém assim ver, é claro. Não postei imagens nem me prolonguei na análise pelo sono e pelo despertar às 6am amanhã. Então, besitos besitos, tchau tchau!

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