sábado, 24 de dezembro de 2011

cíclico ciclismo do ciclo

Call-me pessimista, mas a vida é essa aí. Um orbitação cíclica com eventuais distúrbios e interferências. E a minha tem se mostrado com um ponto alto, baixo, sei lá (depende do referencial) nesse ciclo: o final do ano. Meu Deus. Que época cagada. Nada sobrevive aqui. Chega outubro, e as coisas parecem que lentamente vão *starving*, vão padecendo na road to recovery. Tem sido tão predizível e inexpugnável isso que eu até tenho parado de reagir, tenho resguardado forças para me impulsionar pra fora desse ciclo. Se eu conseguirei, não sei. Meta 2012: sair de casa. Parece que isso aqui é uma casa de espelhos, todos os caminhos levam às mesmas direções, todos os cômodos são idênticos, todos as ações são miméticas e reflexivas. A única mudança possível é o ponto de vista, e, sinceramente, é exatamente o que fiz. Aliás, taí, 2012. Se o mundo vai acabar, acabará no Natal. 24/ 12/ 12: 24/ 24; sei que não vivi uma bosta nesse mundão, mas juro que se for pra acabar, pelo menos dessa margem, medo não aflige. Até lá, continuemos sentindo essa culpa fifth grade alike, lendo blog de pós-adolescentes solitárias, decidindo entre minhas frustrações e postulando que minha felicidade só é plausível no amor (amor, que amor?).

Vejamos como gira a roda viva.

domingo, 27 de novembro de 2011

eu = mim?

Outro dia tive um insight: a única pessoa a quem somos insubstituíveis é nós mesmos.

Todos podem ser substituídos, todos nos substituem, desvencilham-se de nós, desfazem laços, superam dependências, conseguem arrefecer nossa ausência, a muito ou pouco custo. Eu, entretanto, não pode falta a Mim. Talvez o nome disso seja identidade.

Ou não. Acho que vai pr'além de identidade. É algo quase transcendente, talvez, como aquilo de alma, espírito, pneuma, etc. Não no sentido de anima, do que nos enche vivo, dessa "magia", mas algo mais próximo de consciência... é como a percepção que temos de nós e para nós mesmos, nossa capacidade de admitir certas coisas pra nós, de mudá-las, esse fair-play* de way of life. Engraçado como sempre acabo por tratar desse assunto, não? Identidade e alheamento com a própria vida, com a vida alheia, esse vivenciar de fatos externos, etc.

Minha mãe sempre me xingou pelo mal hábito de não deixar as coisas no lugar que as encontrei; talvez seja isso mesmo, como disse meu bravo amigo Pan, talvez nosso lugar seja em nós mesmos, e fugir de si não é uma opção pois não há eu sem mim nem vice-versa.

Quando a gente descobre que viveu fora de si muito tempo, fica difícil de se voltar pra comigo mesmo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

filosofia barata #2: star dust, terços intergaláticos, o apego e a maré

Issaê, negada. Continuação de post filosófico 'cês já sabem o que conota, né? Tomandonokoo-feelings! Quem sabe um dia voltamos à "normalidade"...
(or not.)

 Assim, em alguns casos temos um relacionamento satélite-planeta, ou planeta-Sol, para ser mais ilustrativo. Em geral, nesses exemplos a pessoa que atua como Sol tem um magnetismo pessoal mais forte, por n motivos, e assim acaba por fazer com a pessoa menos luminosa (lembre-se da relatividade da física passional! A Terra é um pixel desmaiado ao Sol, assim como Vênus a nós) passe a orbitá-la. Veja bem, não necessariamente beleza e cultura são o equivalente ao que chamamos "luminosidade", mas podem sê-lo também. As condições de luminosidade são estritamente pessoais, subjetivas para com a pessoa satélite. Nós, meros observadores, estamos fora do sistema de reações - não somos diretamente atingidos -, e a luz do Sol é a nós, refletores, perceptível, e não a ele próprio [O que quis dizer com isso é que o fantástico nos atinge, observadores, e não à própria pessoa. É claro que muitas pessoas podem ser algo para si mesmo, fingi-lo, mas isso não necessariamente é o que nos impressiona - só sempre terá em si a impressão que atingirá a pessoa-satélite criando apego-gravidade]. Em suma, pessoas que consideramos fantásticas - ou os valores que consideramos necessários para sê-lo - não necessariamente promovem apego entre nós e tal pessoa, assim como o fato de orbitar alguém não nos torna piores - ou acontece por tal motivo -, mas sim porque as características dessa pessoa foram suficientes para nos tornar apegados. Como havia dito, em geral tais casos se sucedem nos estágios de fascinação do relacionamento, quando ficamos mais impressionados pelo brilho de cada um - ou quando o brilho parece mais forte (relatividade, sempre). Com o tempo, geralmente, a luminosidade diminui-se pelos mais diversos motivos - intimidade, acomodação, implicâncias, etc. E isso evidentemente diminui o apego. Provavelmente já perceberam que por "luminosidade" entende-se "impressão", independentemente se falamos em lúmens ou metros cúbicos - até porque essência não é aparência, a mínima esfera de chumbo tem o peso d'um astro de plumas de monolotical impressão. O que quero dizer é que questões racionais elementares, como a densidade - ou mesmo o volume - para a sustentação da gravidade são, talvez, menores à física passional, pois os valores são outros - e variáveis.

<< Não é necessário consenso para compreensão desse exercício de argumentação que ao menos se aproxima do discurso científico como um exercício poético, afinal de contas, pensa-se: o que discorre sobre o subjetivo, sobre o passional, sobre o fenomenal, que não o é? >>

Voltando ao tempo, à acomodação, ao crepúsculo do astro, as causas são várias, mas em geral o resultado é afim: a diminuição do apego, o aumento do distanciamento. Com isso, várias coisas podem acontecer, desde a separação das órbitas, até a impressão e subsequente troca pela orbitação de outros astros. Não sei se também tiveram essa impressão, mas aqui sinto transparecer mais a carga humana destas palavras.


Algo trágico pode acontecer também: em geral a carga de apego de um relacionamento é compensada pelas mais diversas razões, como o orbitar de astros afins, como amigos, conhecidos, pretendentes, etc. A vida e as particularidades do satélite o mantêm em sua órbita, desgastam o apego gravitacional do Sol, promovendo as mais diversas malabarices orbitais. Entretanto, quando o apego gravitacional de uma das partes é tão superior ao conjunto de resistência da outra, uma trágica relação inicia-se, dragando aquela menos compensada numa orbitação cada vez mais espiralada (digo num sentido bidimensional) e acelerada rumo ao centro daquele astro impressionante. E, evidentemente, quanto maior a aceleração e a proximidade do centro, maior a dificuldade em se frear o astro orbital. É nessa fase em que o mundo do satélite passa a ser monótono, desinteressante, bobo e fugidio. Cada vez mais dependente de seu Sol, o satélite passa a evitar as minúcias do seu mundo como se fossem afazeres laboriosos, sempre preteríveis em relação àqueles que envolvem o astro-rei. E quem nunca experimentou tal situação?

É quase um lugar comum pensar na nossa teia social como uma constelação de astros próximos que se inter-orbitam e que se relacionam como que realizando os mais diversos fenômenos astronômicos, o que demonstra ainda mais a validez desse exercício "positivo-simbólico", como o perdão da licença poética.

Voltando à parte do canto do bode, quando tal situação extrema-se, o astro-rei passa a se comportar como um buraco negro: passa a sugar o seu satélite e mesmo àqueles que circundem esse - não no sentido de impressão de novos orbitais, mas sim de diminuição de impressionamento do mundo ao orbital (vale lembrar que nada disso é necessariamente intencional por qualquer das partes, aqui toda a mecânica é quanticamente relativizada), só aumentando a sedução letal do astro-rei.


 Presumível é o choque que tende a se realizar com o diminuir do raio orbital. O que se sucede, então, podem ser três eventos: o primeiro, mais trágico, é um choque que pulverize ambos sol e orbital, o modo como esse choque se apresenta pode ser vários, desde uma briga que faça ambos se desestruturarem, um relacionamento autodestrutivo que termine por ferir ambos irremediavelmente ou até mesmo uma separação que, de tão violenta, impossibilite o contínuo navegar dos astros; [P.S.: interessante frisar que nesse caso é usual perceber que ambas as pessoas ainda se amam ou nutrem sentimentos igualmente fortes - ódio, ciúmes, amargura, etc -, fator que então as desestrutura até não se sabe quando. Tal desestruturamento pode se apresentar como uma obsessão, como uma depressão, uma apatia à vida ou mesmo uma aversão àquilo que a pessoa foi até ou tornou-se pelo relacionamento. O que há de se perceber é a potência do estrago, que leva algo consigo obrigatoriamente, diferentemente do terceiro caso, como verão a seguir]


 O segundo, mais terno, é a mescla realizada pelo choque com os dois astros. Nesse caso, ambos formam uma simbiose onde duas matérias distintas formam um mesmo corpo, uma geosfera afim sedimentarmente homogênea, que cujo temperamento sísmico denuncie a multiplicidade da sua composição. Em suma, é como aqueles casais que passam a depender-se um do outro para a vida, sendo o porquê dos seus negócios (negócio como neg-ócio, negação do ócio, ver etimologia em latim), parte essencial da sua normalidade humorística (digo da causa primordial das alegrias e tristezas. É o motivo de ter um humor neutro cotidianamente, ou mesmo das suas causas primárias de instabilidade), da maior esperança de forma de vida (de continuação da atual condição de vivência, em casal, constituindo família, mantendo o apego. Isso pode ser sim uma construção social, mas ainda assim mostra-se um caso a ser estudado). Por mais que associemos esse exemplos a diversos casais, ele ainda é (supõe-se) um caso raro. É o caso dos anciões que mesmo depois das maiores desventuras continuam a amar-se e a precisar-se; das mulheres de ladrão que mesmo sob a violência doméstica (de inúmeras maneiras) continuam a voltar, e ao ladrão que mesmo em sua explosões (muitas vezes causadas justamente pelo amor, diretamente ou não) torna a se culpar, a se arrepender, a se desculpar; daqueles que mesmo distantes fisicamente distantes, dependem do outro para levar sua própria vida, seja na decisão dos atos, seja na forma de realizá-los.

 Já no terceiro caso encontramos o mais usual. Quando a sentimental colisão ocorre, as forças não se acabam resultando na fusão dos corpos ou na sua destruição, mas sim, tal como quando a destruição não consome de imediato a maior parte das forças, somente desestruturando o astros, transforma a órbita em diferentes rotas, tornando os astro em cometas errantes que apenas cortam e alteram órbitas até que a força propulsora não seja suficiente para inexpugnar o astro errante da gravitação dos sois. Tais astros errantes, ainda que inteiros, caracterizam-se pelo caráter acidentado de sua superfície, marcas indeléveis na topografia-memória dos corpos geodésicos, motivo "subjetivo" da sua vilania ( no sentido de "vilão", aquele sujeito que não pertencia a um feudo específico). Não necessariamente todos os astros cadentes adotam tal comportamento. Alguns passam a orbitar (ou a serem orbitados) sucessivamente, na medida em que a gravidade influencia (impressiona) outros astros apesar da sua força propulsora, repetindo aquele comportamento d alterar a orbitação de outros astros ou a rota daqueles cadentes. Uma hora a força propulsora fraqueja, permitindo ao cadente se influenciar perene outros seres astronômicos. É claro que diversos outros comportamentos pós-colisão são percebidos, e mesmo tipos de orbitação que não se concluam numa colisão existem, pois tanto a vastidão de fenômenos físicos e quânticos aumenta com o tempo como a riqueza de relações e da subjetividade humana se faz crescer a partir da contínua experiência do Homem, sendo ínfimas as possibilidades de analogias.


Thats nothing, folks.
É o que tem pra hoje.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

i'm still yawning

E sabe o que mais assusta?
Perceber que aquela nostalgia por um passado que nunca vivi, sentida durante minhas crises dos 15... 14 (13, 11, 8...) anos eram exatamente o que eu sinto hoje: alheiamento ao mundo, à vida, falta de identidade com o que se vive, essa vontade de sumir, de ser capitado pelo éter para assim pelo menos ter alguma afinidade (eletiva) com o nada.

Engraçado eu ter falado a ele, há mais de um mês, que era tudo sempre cíclico. Ele falou que não... enfim, falou que também sentia, mas que não era 'pra tanto' ou qualquer coisa assim... o tempo e os outros sentimentos vão se infundindo àqueles do passado... e aí aqui estou. Voltando no tempo, ciclicamente.

and after all, i'm only sleeping...



domingo, 30 de outubro de 2011

filosofia barata


Para ler ouvindo.
O amor é de fato estranhíssima situação. Antes que sentimento [páthos], destino, inspiração poética [poesys] ou breve obliteração da razão, é uma nova física. Pois sim, defendo que, além da newtoniana e da quântica, existe a física passional. É a única explicação humana possível para tão estranho viver, para esse "awkward moment" expandido.

A física passional funciona - presume-se - de maneira semelhante à newtoniana, mas quando aplicada a grandes corpos - diga-se de passagem, à gravidade. E, convém mencionar um pequeno, mas interessante diferencial: ela [a física passional] não é de teleologia clara, pois o amor é nebuloso e irascível, desconstruindo esperanças - ainda que sem torná-las móveis, ou ao menos menos "esperáveis" (toda espera é inércia, a esperança é uma condição ainda maior, como a de uma espera duplicada - pela distância do que se ansia e pela aceitação da passividade, logo uma dupla passividade, pois a passividade pautada pela impotência ante algo é uma condição de atividade violácea, como avaliaria Kandinsky, impossibilitada).

A física passional é uma ciência antipositiva, ou, se preferirem, um anticiência. E isso por causa da teleologia. Poderia até dizer que ela o é [anticiência] pela sua falta de lógica, mas isso traria problemas de relatividade e mesmo quanto a validez da lógica. Justamente como a física newtoniana em relação aos bosões (ou bósons, se preferirem) de Higgs e às demais quantumcidades subatômicas que constroem (ou destroem) nossa realidade. Se a teleologia pressupõe caminho, já alheia-se da física passional quando essa amiúde comporta-se tal como aquelas famigeradas partículas que encontram-se em dois lugares ao mesmo tempo.

Pode parecer fantasioso, mas é... lógico. O amor é como o "presente do passado" de Santo Agostinho: ainda que o amor-vívido (a paixão) já tenha se consumido, o amor-latente continua, pois tem a qualidade de brase-mansa, que ainda que não seja tão mais operadora de combustões ou piromaníaca em potência, é de vida delgada e ventilada - vejam bem, na rocha sólido em sua dureza há mais vento-nado que dura matéria.
<"Post cogitatio": nessa catalisação de metáforas e analogias, é interessante pensar na relação de piromancia e piromania, que aparecem adjuntas aqui. A física passional não só tem o caráter piromaníaco (que depois será explorado em analogia à calorimetria) quando fomentadora de páthos, quando consumidora de vivências (a matéria sólida, a energia em potência do sopro, a própria existência) e produtora de reminiscências (assim, operado da transcendência, da sublimação do terreno, do físico, do tegumentar para o nebuloso, toison d'or das lembranças e dos sentimentos passados e delgados), mas também o caráter piromântico de assacar a tudo que toca um embrião de futuro, como uma tag, que como uma bolha de ar, impede o decantamento de tudo onde está embutido na rocha sedimentar que é o passado. Esse é mais um dos porquês da inadaptabilidade da física passional à teleologia: como se atinge um destino, quando se já está nele? Bem própria da física quântica essa distância à lá "gato vivo e morto"...>
Continuando, o amor tanto é ventilado e aéreo que mal se tem notícia dele ontologicamente - ora!, se diria, se o amor tanto é assim tão aerado nada mais normal que pensá-lo como em arché tal elemento como já disse Anaxímenes -, mas não é esse o ponto, a metáfora do aerado é como metonímia para o pouco denso, para o espargido, àquilo que muito se tem de procurar e quando enfim achado mostra-se menor ou menos valioso que todo o vazio que lhe precedia. Esse é o amor, invisível como o quantum, potente como o celeste.
Para ler sentindo.
Na verdade, o vazio é uma convenção. O vazio, quando avaliado nesse contexto, é constituinte do amor, tão palpável ou insípido e inodoro quanto a rocha e os demasiados componente só lidos aqui citados. O vazio, enquanto espaço de não-amor, acaba sob domínio desse - o forte apego do hífen e a distância da negativa não impedem a continuação do amor. A partir do momento que todos os outros sentimento que não o amor passam a ser caracterizados como tal, eles passam a contê-lo.

Em suma, são esses os porquês de a teleologia não ser obstante ou mesmo funcional à física passional: a não-linearidade, a lógica incerta, as provas nebulosas. Também poderia dizer que em seu momento mais vívido (de paixão), o amor é um fenômeno de tal maneira ofuscante que torna-se quase impossível se atentar ás suas vicissitudes e minúcias, É como querer avaliar o Sol a olho nu, como querer medir a força d'um maremoto com a peito, como querer acreditar em Deus experimentando-o. A grandeza do fenômeno não só é uma fonte ínfima de observações, mas como também possibilidade da sua continuação temporal - para redundância  "presente do passado". Tão ofuscante é que requer algum distanciamento para sua observação, quiçá requer seu próprio fim. Ou seja, analisá-lo é findá-lo. E, pois não voltamos àquilo de falta de logica e extenuação da teleologia? Voltemos além: aqui está um dos porquês da proximidade entre física passional e astronomia (ou gravidade, para simplificas as referências) - ambas estão mais próximas do circular, do elíptico, do referencial e da entropia que do retilíneo, do linear. Assim, a lógica, o desenvolvimento da física passional é necessariamente redundante, e ainda mais, a lógica passional está tão relativizada que mais parece fazer um todo e estar a ele submetida do que ser algo independente ou mesmo focalizável - a este momento algum leitor ou leitora já deve ter contado o segundo argumento contra a continuação desse texto. Há que se perceber, porém, que se não tudo, quase tudo da existência (ou da não-existência) está sob as mais diversas influências e relações, frustrando assim os observadores mais separatistas (bairristas, enfim). O próprio cosmos, a totalidade maior da nossa analogia astronomicopassional (se considera-se o éter como parte constituinte), é constituído por ínfimas relações - as poeiras alteram-se ou alteram o comportamento de corpos como cometas e estrelas, por sua vez alteram-se ou alteram a rota ou mesmo a integridade se satélites, na sua dança torno o sol - ou sois, que centro do sistemas com ele gira contundindo galáxias que todas acabam por formar e se formar em universo - ou universos, sempre expandindo-se rumo ao vazio. Querer contabilizar cada relação seria computação quântica, vista a infinita expansão e permanente mutação.

E, afinal de contas, assim é o amor, sempre avançando e criando relações nos universos de cada vida individual. Quem não dirá de um relacionamento onde pouco a pouco cada minúcia da vida cotidiana tomou um gosto diferente e de que mesmo aquilo que nada tinha a ver com o amor acabou por dele tornar-se parte justamente por contê-lo na sua ausência?
Para ter forças pra viver.
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Post mais longo do Tomandonokoo-Bonjour, le bonheur? Isso mesmo prod? Escrito no caderno enquanto na Casa Fiat de Cultura esforçando para fazer passar o tempo de labor. By the way, frase proferida por um menino de uns 5~6 anos quando saindo da exposição e vendo a chuva que ameaçava:
- Tá chovendo Platão!
Façam suas próprias interpretações.

sábado, 15 de outubro de 2011

"Dreams" ou Do maldizer à proatividade;

Hoje eu sonhei com ele. Sonhei que ele tinha me chamado no Facebook. Queria encontrar. Sonhei que ele vinha pra cá com a família fazer sabe-se lá o quê. Acho que eu falei que nós podíamos nos encontrar aqui em casa, por isso ele veio, com a família e com o superego nas costas. Nos encontramos no meio do caminho, e, ah, parecia que nada tinha acontecido. Parecia que selávamos o olhar pra nunca mais deixar nenhuma nuvem cataratesca de incerteza se permear... nesse instante só, como a música do Graveola. Ele acabou indo pro shopping enquanto eu conversava com o irmãozinho dele, ríamos, curtíamos - digo, eu e o irmãozinho. Depois, na dúvida de entrar no ônibus da família e do superego, que, vejam bem, eu tinha que pagar uma passagem astronômica para ir, liguei-lhe para perguntar se era isso mesmo. E ele "Não, vem pra cá!". Ah, eu vou, eu estou indo. Então antes de chegar em casa, para então ir ao seu encontro, acordei.

Tem sido assim uma dorzinha, sabe. "Pode olhar mais uma vez pra trás só pra dizer que gostava, seu olhar trazendo flores que você esqueceu de regar", diriam os Graves. Depois de uma semana segurando a respiração debaixo d'um rio de melancolia, como aquela cena d'As Horas, me levantei lavando toda sujeira tegumentar. Mas o que (está)va dentro persistiu. Ironicamente, como tudo, começou a chover com o início deste post. Lembra qual foi a última palavra que nós trocamos (digo, que eu te dei)? "Cuidado com a chuva".  O disse e, pouco depois, as chuvas despencaram das suas embarcações acinzentadas, para trazer do azul do céumarzão melancólico embaranhado nos nós dos cabelos de nereidas-Yemanjás. A vontade que dá é de se afogar nas sombras, de ir embora. A sensação é mais ou menos esta:
 "I feel like a part of a book I read".

  •  tudo azul e orgânico. tudo mais céu e mar. tudo no firmamento é peixe, alga ou estrela - ou cabelo de nereida. ainda que o firmamento seja aquele de andar com a ponta dos dedos, de indicar a lua com aponta dos pés.
    08 de outubro às 16:54 

  • ‎(e de repente o mundo liquefaz)"

Não dá pra saber se as nuvens se escondem na torrente-lençol freático-rococó, ou se fogem dela. Não dá pra saber se o holocephalio nada na direção da torrente, ou se está imóvel, deixando-se engolir. Não dá pra saber se as mangas são enfeites ou corações de nereida, se são seixos macios e suculentos, se são fito e zooplanctos em sua microvida. Todas as invisíveis estrelas sólidas-ululantes do céu estendem podos e se encaminham pra escuridão da sua certeza, pro buraco-negro da frustração.

Mas, hoje em dia,

Não se sabe se o astro se esconde ou se revela sobre a muralha tegumentar, mas independentemente seus raios solares retem-se sobre as nuvens em fuga, refletem-se no teto azul do firmamento. É difícil se esconder nas sombras, porque todos os nossos sonhos se escondem na escuridão. Ainda que tateie sua contra-forma da luz no chão, ainda que me permita esse simulacro, os abraços são todos bidimensionais.

"And everywhere I go, there's always something to remind me of another place in time, where love that travelled far had found me."

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

[nome de viajantes dos sonhos]

Essa noite sonhei que estava míope. Eu estava no Palácio das Artes, fazendo sei lá o quê, só sei que eu não consegui enxergar nada longe. Isso me parece algo tão cheio de significados! Digam se não parece um símbolo de futuro incerto, de falta de planejamento, de efemeridade das vivências presentes (ô, e esse daí a gente sabe bem, hein produção?)... e quanto mais eu me esforçava para conseguir ler o que estava longe, mais meus olhos doíam, mais minha visão cansava. Se não me engano, no começo do sonho, eu tinha só a impressão de não conseguir ler à distância, e já pro fim, de tanto forçar, o que estava longe mostrava-se inlegível já.

Simbólico demais pra mim. Vejamos como se comportará a vida...
A música não tem necessariamente a ver com o sonho, mas quis colocá-lo aqui.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Muito fácil falar a quem já desenvolveu a catarata passional para que olhe ao chão onde pisa.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quando a voz que era brisa acalentadora se torna torrente que acidenta, passa-se a temer o silêncio.

Blog não encontrado

Desculpe, o blog que você estava procurando não existe. No entanto, o nome tomandonokoo está disponível para ser registrado.

(essa octogésima postagem eu dedico a tudo que foi sepultado, mas continua vivo.)
"Não te demores nas ondas
Que se quebram a teus pés; enquanto
Estiverem na água, novas ondas
Se quebrarão neles".

Quando menos se espera, a mesma playlist [da vida] se repetiu incontáveis vezes.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

E aí que o filme acaba. Os créditos passam, a música finda, e a vida clama. O ciclo recomeça. A pausa excepcional se encerra, e tudo volta ao habitual. Não adianta secar as lágrimas, elas marcam a pele. Elas marcam a alma. Não adianta fugir da vida, do passado, tentar ignorar o futuro-presente. Tudo clama, e nem os surdos são capazes de obliterá-lo. Obliteração. A vida é assim, rumos tortos, perspectivas irracionais. E querer negá-lo é bobagem. Nossa teatralidade é um espelho. Não adianta fingir de tudo fantasia, pois estamos somente a nos ver. Somos palco, ator, e plateia. E os laços sociais mantém o apego. Pois sem o apego, se permite ao barco velejar sem destino, se deixar levar pela maré de nuvens... até que um dia esteja geograficamente perdido - pois todo barco perdido o já é em potência; todo barco que se perde no mar, já perdido era ancorado na costa. Só nos resta juntar a mão no rosto e esperar que as lágrimas percorram o caminho da vida o quanto antes, pois o passado brada tão forte que afugenta o futuro.

Não adianta chorar pela companhia ausente. Sentar e descobrir que seu único confidente era mudo de palavras e hoje mudo de vida não é acalentador. Então, não me peçam pra deixar passar. Não me peçam, por favor, pra ser forte. Porque fortitude implica fraqueza. E já sei de todas as minhas fraquezas, deixem-me ser fraco para poder encontrar forças em algum lugar.

Antes eu não colocaria esta foto, mas seria muito desrespeito.


Não foi uma erupção, um incêndio, uma bomba atômica... foi só uma brasa... que a cada suspiro, revive. "Só dói quando eu respiro".

A Viagem de Chihiro - Vagão de espíritos
Às vezes a vida é assim... um vagão de lembranças translúcidas que rumam em trilhos submersos. Cada qual apegado a sua própria bagagem, cada qual com sua própria teleologia.
Um hora no filme, em que Chihiro vai tentar uma empreitada pra salvar os pais, ela fala: "Eu não sei se eles realmente valem o esforço". Veja bem. Ainda que não sejam os melhores pais do mundo, ela se arrisca, chora, faz de tudo para salvá-los. Ela não procura salvar somente seus pais, sua figura, mas sim sua vida. E aí a gente se percebe nesse dilema. "Eu não sei se vale o esforço". Chihiro entra num novo mundo sem amigos, sem um lugar seguro, sem promessas. Sai de lá repleta de amigos, repleta de histórias, sai de lá com um amor verdadeiro. Mas ainda assim volta pra imperfeição de sua outra vida. Muito triste a parte em que Lin a pede para voltar antes de Chihiro pegar o trem. Vocês percebem como Chihiro era uma significação à vida? Muitíssimo triste ver o escravo da fornalha lhe dando as passagens de trem que guardou por 40 anos. Ela era uma significação a ele também. A única lembrança física que Chihiro leva de volta é a "gominha de cabelo" tecida pelos seus amigos. Acho que A Viagem de Chihiro é um filme que catalisa muito bem o que é toison d'or (pastel seco, o bastão de desenho que se parece com um giz) na vida - o passado, a infância e a fantasia.

Aí, tudo o que resta é respirar... ainda que doa, que todas as vezes a brasa arda e o coração aperte, é necessário se ventilar e se deixar mudar de ser, pro passado passar e pro futuro bradar. Ninguém lerá, mas...


bonjour, bonheur.
joyeux anniversaire, tristesse.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nostálgica fruta

Minha casa é Mangueira. Verde e Rosa. Verde da folha, Rosa da fruta. Em casa temos uma senhora, sexagenária que esconde sua idade debaixo da sombra da cabeleira frondosa, que nessa época do ano se enfeita com vários brincos-penduricalho e colares-pendentes e terços de contas barrocas em seu verde-róseo e impressionistas nas suas pintas rosas-verdejantes. Diástoles doces e sístoles azedas contidas em cada fio da renda interna dos corações-de-mãe que se amontoam como tri, quadri, miligêmeos no cordão umbilical, de pele assim tão macia pra seduzir o dentes mais que qualquer maçã abestalhada. No final cada mordida é um passar de fio dental inverso, sedimenta-se as entradas da muralha-arcada ao invés de desentupi-las. A mais (doce) (bem sucedida) (carnavatropicalesca) operação tapa-buracos que se tem notícia! Tão proativas quanto qualquer bacilo-vibrião-bastonete, as estafilococos estabanadas adiantam-se à queda e brotam antes de se soletra \man\<péde>\ga\. De fato, trocam os pés pelas mãos. Ah, se Newton comesse mangas. Nunca teríamos um físico, mas sim um filósofo, um poeta, um mestre-cuca, mas antes de tudo um glutão, apaixonado com a sede da queda contida em cada um desses corações. Nietzsche, então, nunca seria o velho-babão de misantropia, mas antes um velho-babado de manga. Ele certamente não diria de monstros e dos seus abismos, mas sim de mangas e dos seus abismos contidos. Nem mousse, nem chutney, nem Tommy. Manga boa é manga de pé, manga de fibras mais longas que a cabeleira de Yemanjá. Mais longas que as de qualquer papel metido a gueixa.

Quem sabe o texto continue. Que seja feito os fios de manga; Estendem-se em comprimento, estendem-se em conjunto, estendem-se nos outros!

sábado, 17 de setembro de 2011

Onda ou nado

Deixa eu te moldar com as mãos. Deixa eu te moldar com o coração. Você é assim, argila. Só me explica se és feito de pena ou de barro. Quero saber se é assim Anjo, pra eu me agarrar a cada pena solta de me deixar levar na brisa dos seus beijos. Quero saber se é assim Homem pra eu não me lavar do seu rastro de mão, pra eu me deitar na contraforma do teu abraço, e por minha alma na bolha de ar do seu coração. Deixa eu catar suas pedras, deixa eu te deixar assim molim com o vinho da minha paixão, ébria. Me apaga o fogo e deixa acesa assim a minha brasa com seu canto de ar suave. Não me peça pra mergulhar nesse seu manguezal, qu'eu fico assim perdido, me agarro às suas raízes aéreas, acabo caranguejo andando de lado na pista do nosso caminho. Não me peça pra pular do precipício, nem pra olhar pro abismo, ele olha de volta. Não me peça pra ficar debaixo da sua asa, que não aguento mais essa sua sombra que te finge, mas que só permite um carinho no chão. Não me permita nunca te queimar com o fogo do meu amor, mas nunca se esqueça da minha forma... não te aguento assim, chão. Não me permita nunca te engaiolar, que senão acabo preso do lado de fora.

Me diz como será o amanhã pr'eu esperar alguma coisa. Ou nada.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

vce

você é meu poste de mijar
você é minha areinha de enterrar cocô
você é meu consolo favorito
(aquele que dá preguicinha de lavar quando a gente não faz chuca hihiihi)
você é meu cobertor da infância
(que já tá parecendo mais com tapa-sexo do que com cama-mesa-banho)
você é meu pente-de-black-power-que-fica-preso-no-black-power
você é meu primeiro pentelho :3


você é até a senha do blog.

domingo, 4 de setembro de 2011

La dolce vita.

A trama de tempo que nos liga
é tão mais longa e de fortes fibras
que este próprio papel. A pseudo-linearidade
do tempo emaranhece com a
ingênua teleologia ocidental, que o
sfumato de Da Vinci naturalmente encubrirá,
com a pictoriedade das cores do por-do-sol,
com o som d'água dos riachos de Heráclito,
com o aveludado das peles que se aproximam do início-fim da sobrevida,
mas que, com tudo, se fundem às formas da super-vida do todos nós.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre Complexo de culpa e o arquétipo Blogueiro Loser

E o que acontece quando você se percebe matando grupos de estudos (y otras cositas más)? Me sinto malbagarai por isso, mas, gente, não dá, sabe? Imaginar aquele bando de gente (feia, mal educada, disléxica, chata...) falando de redundâncias e adjacências, ou então ir pra uma reunião maconhada onde só tem gente que te acha random e alheio (e que você muito presume que mandarão uma ata com tudo que você precisa pra desanimar de frequentá-la).

Me dá um medigno de ficar igual patrícia, dez cursos diferentes, nenhum completo, funcionário público na Rondônia. Poderia até pensar "aff, ay xente 1 dia a menos naum teim poblema o foda eh qndo vse si acostuma", mas, oi? lógicakd.

Por isso vou pra casa agora desenhar, escrever, esperar o tempo escorrer (ou mais precisamente escorregar e cair de bunda, até levantar comigo de manhã), ler, ouvir, e tentar pensar em outra coisa que não na necessidade patológica (e eu sei que pelo menos você entende dessa necessidade, né? ou não, sei lá).

*abre nova aba, joga horário s50 bhtrans*
Tchauses, povo de biblioteca de biblioteconomia, somente o amanhã me aguarda, e as suas vidas alheias não vivo mais. A vida alheia que vivo parece ser só uma, agora. Ou não, sei lá.

[PS.: esse novo design do Blogger é uma grassinia, mas não tenho certeza se curti muito essa coisas a lá A Ilha não. Não obstante já me sentir meio *louco* *cagado* *miss lexotan 6mg garota* filme.indie com esses posts rivotril-like, o layout ainda tem que legitimar isso!? Desse jeito acabo viciado em the.sims.de.facebook... ou não tendo religião e odiando cristão - oh wait]

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

post vazio

Cada momento histórico de nossas vidas carrega consigo o sumo de toda nossa vivência. A cada momento histórico, o zeitgeist do tempo de cada um nos toca, como o anjo que nos tangencia com suas asas a cada rasante. A cada momento histórico prenuncia-se o seu próprio fim.


Meus eus estão cada vez mais longes uns dos outros, e sua morte é cada vez mais iminente. E o que eu posso fazer? ou me agarrar a eles com a maior força e número de lágrimas possíveis, ou me juntar a eles, no buraco negro, no vão na parede que ladeia o infinito, na pausa da música, onde todas as cores estão sobrepostas por uma fina camada de preto.


Eu consigo sentir o tempo escorrer no âmago do meu ser. E a cada torrente, a cada nova maré cheia, vazia, ressaca, algo de mim dilui-se. As cores me levam a um lugar-comum esquecido. Se tudo que está em mim esvai-se, o que eu sou? Se eu sou "a mim" e "aos outros", como posso preencher-me de mim [com o meu vazio] e com os outros [com sua distância]?


Heráclito de Éfeso é o maior pessimista que já houvera. Ele sentia o tempo escorrer, e via, assim como eu, que nada adianta arrastar-se pelo leito lamacento das memórias, pois, ali, não há nada além de detritos e água turva.

domingo, 21 de agosto de 2011

Inércia Proativa

Sabe, às vezes eu, de fato, sou como um vampiro que suga a pneuma alheia, tal como está no "sobre mim". Não quero dizer que eu seja invejoso, copioso ou qualquer desses adjetivos que os escritores de auto-ajuda de Lojas Americanas tanto gostam de falar (que não passam, ao meu ver, de maquiagens pra algo muito mais profundo: o cerceamento da vida que o capitalismo promove). O que acontece é que eu vejo a vida (dos outros) passar. E vejo minha vida na vida dos outros. De vez em quando tenho a impressão de que minha vida é algo absurdamente experimental, é quase uma terceira-pessoa. Eu me narro o que vivo. E penso qual é o tom dessa narrativa, sobre o quão verossimilhante ela é com a vida de fato (a que eu deixo de viver para narrar). Diria que estou numa fase de intensa vivência, mas ironicamente ainda aqui, nesse "lugar comum", a narrativa continua sendo tão latente e potente quanto aquilo que de fato vivo. E só resta a dúvida: vivo? Algum psicólogo comportamental chamaria toda essa poética do absurdo acima de proatividade, e não nego que o seja. Talvez seja o traço de algum arquétipo, algum complexo, que não seria? De humano, basta o chão. A inércia da proatividade lentamente engessa a vivência. Quando percebo estou com os pés enraizados no solo e com as mãos esfaceladas sobre a face ("palmaface"). E aí, quem lerá tanta narrativa? Eu mesmo, que já as conheço? Auto-epístolas é demais até pra mim.

[Pensamento interrompido em função de estar ouvindo "Everything goes my way", do Metronomy.]

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Allan Poe; Bíblia Malkaviana; Heráclito de Éfeso;

Bem vindo menino
ao mundo dos tolos
Onde o sexo é desprivatizado
onde o amor é coloca debaixo do tapete
Onde apaixonar é apenas um verbo bonito de se ler
Chegue mais
Desfrute das nossas ninfetinhas com bucetas deliciosas
Elas são apenas carne
Assim como você
Um dia sentirá falta dessa carne
A carne que um dia irá apodrecer
No dia em que perdertes a vontade de comer-las
Buscará por uma nova força para se alimentar
Outras carnes novas
Mas as carnes novas não são as mesmas
Então, quando esse dia chegar
você começará a varrer mais
E talvez, encontre o amor de novo
Aquele amor que você sempre pisou em cima.

Lucy Cieiro­­.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

sangue real

A expulsão de Éden foi o primeiro marco de tempo. Antes dessa, Adão e Eva foram imortais pela sua criação não constituir marco cronográfico. Talvez um neologismo como cronônico, junção de tempo em Cronus com  icônico, no sentido de marca visual contingente de significado; "significante visual". Assim sendo, a imortalidade de Eva e Adão consistia na infinitude de sua criação. Não gosto do sentido ético da relação com o Fruto Proibido, com a Árvore do Conhecimento. Afinal de contas, se Deus já os advertira a não comer tal fruto, já se estabelece um sistema ético, com uma norma explícita: "Não comam o fruto da 'Árvore do Conhecimento'". Isso para mim seria um erro de lógica; negar o mandamento divino já é o pecado. Deus como onisciente e eterno sempre teve conhecimento do pecado e da escolha antiética humana. Deus criou o Homem, dessa forma, para pecar. Deus só conhece o que é verdadeiro, Deus não conheceria e, conseguintemente, não conceberia o Homem se esse não pecasse. A essência do ser humano é o pecado. O que seria o pecado, então? O Fruto da Árvore Proibida traria o que para o Homem?

Só me vem à mente que o Fruto da Árvore seria, de fato, a consciência sexual de seus corpos, o conhecimento do erotismo e da lascívia, assim como diz a doutrina de William Marrion Branham (oh, Wikipédia, shame on me) - porém, se tal tendência ocultista de uma linhagem satânica Cainista, ou mesmo de uma Serpente antropomórfica. Pode ser bobagem, mas a mim o fato do animal ser uma serpente e de ter um fruto, ainda mais, uma maçã, é muito sugestível como parábola à fertilidade, à origem da vida como espermatozoide e óvulo/ ovário. A largos passos, a Árvore e o Fruto proibidos possam parecer como uma alegoria ao patriarcado: o Fruto, feminino, é passivo, está sendo oferecido para ser pego; a Serpente, masculina, é ativa, e seduz Eva a colher o Fruto e consumi-lo com Adão. Considerando-se o mito de Lilith como verdadeiro - o de sua existência, e não sua transformação em Serpente e sedução de Eva (ainda que isso gere uma interessante teoria de relação de Fruto proibido como lesbianidade e Lilith como alternativa sexual-dominante de Adão) -, podemos pensar em tal ponto como a passagem de matriarcado e culto da Grande Mãe (talvez aí o porquê da relação Lilith e Árvore proibida) pro patriarcado e culto de Deus/ Pai celestial. Afinal de contas, talvez o fruto fosse a descendência, pois somente após serem expulsos do Éden e de assim terem a consciência da sexualidade, Adão e Eva tiveram sua prole (em tese iniciada pelo varão Caim, 70 anos após a expulsão de seus progenitores do Éden).

O Fruto da Árvore então é a sexualidade, e a expulsão do Éden o marco cronônico da mortalidade do Homem. Assim, com o distanciamento do marco cronônico inicial e a noção de envelhecimento, cada geração de patriarcas cristãos se torna mais mortal, mais efêmera. Os primeiros antepassados antediluvianos talvez tenham vivido por tanto tempo, por centenas de anos, em função do seu próprio marco cronônico ter também se dilatado: Adão, ao menos, viveu por 900 anos, alcançado sua oitava geração. Logo, Sete, da segunda geração (sendo Adão e Eva a primeira geração), viveu cerca de 100 anos até a morte do seu progenitor; Enos, da terceira, pouco menos, e assim conseguintemente até chegarmos em Noé, em tese o último dos "milenares", cuja prole diminui substancialmente as centenas de longevidade. Isso corroboraria tal tese do marco cronônico, afinal de contas, com o dilúvio, a prole dos antepassados se tornou distante do que havia até então da humanidade. Só Noé, que foi pai tão somente aos 500 anos, continuou com tal herança. Já seu filho, Sem, só o acompanhou por 450 anos, metade do que era então habitual. O seu filho, neto de Noé, acompanhou esse por ainda menos, 350 anos, e seu próprio pai por 500. Não por menos morre com 438, e seu filho com 433. Até o tempo de Jesus Cristo, notavelmente o limite de longevidade já estaria numa só centena. As condições então de sobrevivência com certeza ceifariam ainda mais décimos, com mortes sexagenárias ou menos.

Nós da contemporaneidade estamos recobrando artificialmente o "centenário longevo". Não é mais uma questão de extensão da alma, de decréscimos da antiga longevidade infinita por distanciamento cronônico, mas sim pela condição de restauração e conservação da carne. Talvez nós estejamos de fato no tempo do Apocalipse, onde adolescentes, ainda no seu um décimo de vida, já sofrem dos males do atrito entre sobrevida e morte, com suas obesidades, hipertensões e estresses. Acontece que, se não mais morremos por disenteria ou anemia como há dez ou mais (ou menos) séculos atrás, hoje morremos por condições contextuais que, ainda que sejam completamente diferente daquelas, mostram-se iguais em efeito. O capitalismo é o novo vício, e talvez a redenção - o comunismo pleno - seja utópica e pós-apocalíptica. O comunismo é o novo Éden, o comunismo é o Paraíso velado.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Discreto Chame da Burguesia

Resposta a (uma série de) comentário sobre a seguinte notícia:

Copyright: França já advertiu quase 500 mil por baixarem conteúdo pirata


@Allan Taborda dos Santos

Claro que as leis não devem seguir cegamente os costumes de um povo, mas sim refletir acerca esses e prever o que de melhor pode ser salvaguardado neles. Acho ainda, que os costumes não são o principal enfoque, mas sim as faltas que o sistema em que vivemos reproduz; se não temos boa educação, então devemos ter leis que proíbam assassinatos, roubos, corrupção, etc; se não temos um sistema de promoção da cultura, então devemos ter uma lei de incentivo à cultura.

Mas é óbvio que o interesse dos que estão no poder, quando se pensando da democracia burguesa, não é ter as leis como medidas paliativas que sejam cumpridas até que seja sanada a sua origem, mesmo porque tais faltas são engrenagens do funcionamento do capitalismo. As leis são simplesmente bridas para guiar a massa quanto o interesse burguês. E tal instituição francesa, Hadopi, é um ótimo exemplo disso. A internet é sim um meio que subverte o capitalismo, que propicia o acesso a riqueza virtual, o software, àqueles que não teriam condição de fazê-lo pelo seu caráter de proletário, pequeno-burguês, etc. Tanto que a indústria cultural, anomalia da cultura criada pela ascensão burguesa, já tremeu frente a possibilidade de ter suas mercadorias acessadas gratuitamente pela massa, o que impediria sua continuação (e é aí que se encontra a cultura indie, não de óculos Ray Ban e calça xadrez, mas sim desenvolvendo cultura sem ter que acessar a burguesia cultural e possibilitando seu acesso a todos).

É preciso entender que a cultura é, antes de uma mercadoria, um direito humano. Aquele que faz cultura tem que se ver como influenciador das massas, não como um autor que amarra o que produz com arames farpados (chamados também de "direitos autorais"). Até porque a cultura nunca é algo completo em si, sem influências e fontes. Somente assim seria possível e verdadeira a utilização de tais "direitos do autor", negando a enorme influência, a "Nachleben der Antike" que existe em tudo que fazemos. Tais leis que cerceiam o acesso a cultura são simplesmente antihumanistas. E não estou negando o trabalho de programadores, artistas, editores, ilustradores, etc. Mas uma alternativa além do open source, além da produção indie, é a criação de "softwares lite" e "softwares pro", com bastante sinceridade e menos austeridade. Um bom exemplo, talvez é o Real Player, que como software freeware, limitado, já supri necessidades de usuários comuns.

Não devemos nos resignar com o muramento de conhecimento e cultura, nos satisfazendo com produtos e cultura de massa. Devemos, sim reivindicar por cultura e conhecimento de qualidade, que nos forneça os meios necessários para a nossa própria produção intelectual! Aceitar de cabeça baixa as normas que os burgueses, detentores dos meios de produção em geral, e atentados a deter nosso espírito (favor não fazer a idiotice de ler tal frase religiosamente), é simplesmente vender nossos direitos humanos! É vender nossa humanidade, e atestar a nossa bestialização!

DO WHAT YOU WANT 'CAUSE A PIRATE IS FREE!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

leite da Virgem

ser humano máquina
estudar (uma pena se você é um inútil com os números) (um dia o professor disse que eu nunca sairia da escola) (malditos números-equações-frações-jogo-da-velha) – especializar-se (e aí você estuda mais) (mas não tem mais matemática, ufa!) – trabalhar – contas – casar – filhos (onde eles irão estudar?) (como transformar criaturinhas da natureza de maldade em pessoas como as que desejamos ser?) (e não conseguimos) (mas eles podem talvez eles possam)
ser humano estando humano
carne alucinação suor – o esqueleto quase não agüenta – dor desespero colapso merda porra foda
treme-pisca-treme não tem razão
impulso
vontade
prazer prazer prazer prazer
com quantas pílulas você constrói uma escada que leva para o alto?
preocupações
deixo de estar
viro robô
mais algumas gotas, até o sono vir
lixo lixo, sonhos de lixo não quero dormir
nem acordar
fui para os ares todo o meu ser-alma-essência pelos poros
busca pelo fantástico quantas quantas fantasias!
bosta
é a realidade bateu na porta
coça coça alergia
alergia?
da realidade
e os sonhos coçam
pensamentos coçam mas não quero ser máquina
pílulas mais pílulas
brancas azuis amarelas rosas
tem em gotas também
pingam pingam pingam
uma grande piscina cheia cheia de gotas que a deixam
cheia
coça
caço
caço um lugar que não coça
um lugar de
descanso
uma corda
instalação forte para suportar o
peso
da corda?
e o meu
(Paula Sanches)

Isso não são só letras. Não é só semântica, significante ou forma. Nem fenômeno só é, porque ainda é algo tão além de algo observador-fenômeno. Isso é xamanismo, poesia-coletiva, zeitgeist.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

cerâmica

Forrou o círculo plástico (mais ogival que qualquer arco gótico metido a besta) como uma mãe forra o filho à noite. Forçou todos os neurônios com uma tensão muito mais que guerra fria pra poder relaxar cada célula do anel fibroso. Tateou o volume em si, sentiu cada ângulo como a reta que tangencia o círculo. O sentiu fluir como a letra de uma canção, como uma idéia neonazista. Deu à água. Ouviu o impacto: 330 m/ s; Sentiu o frio invadir seu interior: energia potencial. Continou como que num processo de partenogênese. Quando satifez a criação, viu tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom. Inclinou-se, e disse: "dominais sobre os peixes do mar", quando promoveu-se o esvair horário.

domingo, 1 de maio de 2011

O amor não sabe medir distâncias. E nós percebemos isso mais fortemente na saudade. Na nostalgia, no saudosismo, talvez. O amor é a essência máxima do presente. Só ama quem vive. Só se sente o amor do presente. Por mais que dure décadas, ou, quem sabe, séculos, o amor é sim fugaz. Pra alguns ele nunca virá, porque, quem sabe, passou muito rápido, antes de se poder segurar na mão e pedir pra ficar. Ou, pra outros, o amor é essencialmente visível: ainda que ele esteja longe em passos, nos olhos ele está logo aqui. O amor, afinal de contas, é a essência da vida. Não digo da sobrevida, e emendando com o outro post, a essência da sobrevida é o tato. Mas na união de ambos, do tato e do amor, chega-se não somente ao orgasmo, mas também a quiçá maior divinização do momento.. Apesar de mais preponderante em densidade, o amor romântica não é, de forma alguma, o único amor verdadeiro. Gostaria de dizer que amamos a tudo que temos, mas sinto insegurança nessa frase. Sim, amamos também a tudo que temos. Afinal de contas, amamos nossos amores, nossos amigos, nossa família (ainda que o amor seja só a sombra num lume de raiva). Não sei enumerar o que amamos que não temos. Pensei num amor não correspondido, ou num amor de fé (porque ninguém nunca esteve com Deus e afins para amá-los), mas ainda assim, para um amor não correspondido, se tem o amado. E, para um amor de fé, tem-se a concepção de divindade. Logo, só posso concluir que o amor também é posse, mas quem quiser o dizer, o diga, eu é que não o farei. Bom, por fim, temos o amor. Habemus amor, habemos Mishka, habemus bixa!, habemus poesias no msn, habemos dedo-cor-de-rosa, habemos todos!

Este post eu dedico a todos que tenho, mas principalmente a todos que entenderão alguma das orações do último período. ♥

terça-feira, 19 de abril de 2011

meus dedinhos, onde estão?

 Todos, quando crianças, já brincamos de interagir com os corpos ao nosso redor. Não o fazemos por pura hiperatividade, mas sim porque o tato é o único sentido existencialmente completo em si. Pois, a visão, por mais que capture, não expõe. A fala, por mais que possa enlaçar os outros e a nós mesmos, pela audição, não garante a compreensão e a mutualidade alheia (vide aqueles pobres cuja solidão já se tornou tamanha que a fala consigo mesmo se mostra necessária, mas que não garante sua melhora). A audição às vezes pode ser pior que a fala, pois não só deixa de garantir a comunicação (muitos de nós não compreenderíamos um "bosquímano australiano") como também não pode promover sons por si própria. O paladar, enfim, gostos não são exatamente existenciais, pois são tão concretos como aquilo que um esquizofrênico vê ou ouve. Talvez, o que mais vislumbra à existência no paladar é o gosto do próprio sangue. Mas não posso considerar tal característica como fomentadora da sensação de existência pois, como já falei, não se pode confiar naquilo que não se vê, não se ouve, se toca (talvez se cheire) - o gosto. Já o tato, não. Esse não só transmite a sensação do outro, mas como nos transmite ao outro. Vocês podem argumentar - "e as neuropatias periféricas?" pois bem, essas, em geral, caríssimos, não promovem a perda do tato, mas sim sua diminuição (ou potencialização). Ainda assim, o que posso considerar como "vontade máxima para a sensação existencial", que é segurar, abraçar, tocar alguém, só se é possível com a intenção de quem o faz. Ademais, mesmo que não se sinta o toque, há de se perceber seguro (imagino que não há patologias que impeçam de notar que algo te segura!).


E, não pensem que um crise existencial no caráter de "sentir o mundo", "se sentir no mundo", é algo irrisório, ou digno de escárnio, pois, ignóbeis são aqueles que ainda não perceberam a grandeza da existência.

terça-feira, 12 de abril de 2011

é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional ...

 Justamente quando eu adiciono o fatídico Cinema Cultura no blog roll desta espelunca, percebo que este está fora do ar. Desde quando? Não sei, provavelmente foi algo de hoje, ainda, já que ontem eu baixei Film d'amore e d'anarchia.


Sinceramente, a internet sofreu um atentado nesse mês. Não obstante o Vagalume Rosa, do Wordpress, agora o Cinema Cultura, que era do Blogger, que mostra uma faceta homofóbica e retrógrada do Google. Qual será o próximo passo pra zerar a cultura no espaço virtual de vez? Acabar com o Tomando no Koo? Diminuir a minha blogrolla? De fato, castrar as fontes deste mísero blogayro?


Enfim, este é o atual cenário da internet brasileira. Extinção de blogs relevantes, perseguição de blogs LGBTT's, pornográficos ou não, restrição de meios e da liberdade de expressão... aquela "internet anárquica" que idealizávamos nunca existiu, e pelo jeito que se toca a carruagem, nunca existirá.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Análise Pelicográfica #7 - "Salò o le 120 giornate di Sodoma" (1975)


Título traduzido: Saló ou Os 120 dias de Sodoma
Direção: Pier Paolo Pasolini
Gênero: Drama, Comédia, Explotation

Origem: EUA
Diálogo: Italiano (majoritariamente) , Francês e Alemão
Duração: 1 hora e 51 minutos segundo a Wikipédia
Cor: Colorido
Link: Com esta postagem eu brindo a inclusão do Cinema Cultura na blogrolla (ou da blogrolla no Cinema Cultura, depende do ponto de vista). Sentimo-nos lisonjeados, palmas!, palmas!.



Spoilers! Esta é, inegavelmente, uma magnum opus. Não consegui definir se Pasolini quis, com tamanho explotation, destilar o "espírito" do nazifascismo, que se assenta na bestialização do homem, ou se ele o retrata "ao avesso".        


 Na primeira assertação, é singela a premissa: a partir a desumanização das pessoas com tantos abusos, assassinatos, torturas e horrores amiúde, os próprios nazifascistas se bestializavam. A coprofagia, o gosto pela tortura, a necessidade de subjulgar as normas sociais e a sodomia* são todos vistos nas bestas. Assim, quando Pasolini representa toda a anarquia** gerada pelos personagens poderosos, ele não tem a mesma intenção de John Waters, outro grande nome do Explotation. Enquanto o ideal maior de Waters é chocar a hipócrita, moralista - e com os primeiros traços do que hoje seria a voga do "politicamente correto" - sociedade estadunidense, Pasolini busca apropriar-se dos exageros como ícones à real alta sociedade nazifascista.
*Quando me refiro a sodomia, quero dizer do estupro não-copulativo. Ou seja, de estupros que não tenham a intenção de gerar crias, tal qual no mundo animal, onde diversas vezes um ser aproveita do outro para satisfazer seus hormônios, quando não podendo consumir a cópula efetiva.
**Citando um excelente diálogo aos 38:13 minutos: "Observando, com igual paixão e apatia, Guido e Vaccari masturbando os dois corpos que nos pertencem, inspira um número interessante de reflexões. [O Magistrado então pede: "Importaria-se de se explicar melhor, caro Duque?", que então retoma] Nós fascistas, somos os verdadeiros anarquistas. Naturalmente, uma vez que nos tornamos mestres do estado, a verdadeira anarquia vem do poder.". Logo, a extensão do poder gerada pelo acordo das quatro personagens poderosas ilimita suas vontades. A anarquia é, evidentemente, usada no sentido de "superioridade ou não-respeito às leis cívicas e normas sociais".


 Com a segunda hipótese, a qual Pasolini faria um "retrato avesso" do nazifascismo. Pois vejamos bem: um dos principais fundamentos do nazifascismo é o respeito e sublevação do sujeito ao Estado e/ou a sociedade. Gerando uma mescla de ambos, tal qual em regimes teocráticos onde a maioria da população é adepta da religião oficial, as normas sociais, ou seja, a distinção entre aquilo que é aceito ou excluído pela sociedade, é normativizado legislativamente. Tal qual a sociedade alemã machista e homofóbica da República de Weimar rejeitava, a política nazista do Terceiro Reich condenaria homossexuais aos campos de concentração. Mas, enquanto primava pela saúde daquilo que considerava humano, o nazismo se intoxicava com a degradação de todo o restante. A vocês, não parece contradição? Eles se apoiavam num conjunto de leis morais e numa pseudo-ciência (o darwinismo social tinha diversas falhas que o condenavam desde o nascimento) hipócrita e completamente bestial, que simplesmente anulava tudo aquilo que não convinha. Assim, enquanto eles pregavam o que era humano ou não, seus atos de selvageria há muito comprovavam sua desumanidade. E Pasolini mostra isso expondo um "negativo" da moral fascista e conservadorista no norte da Itália durante a ditadura de Mussolini.


Enfim galeras, apesar de forte e blablabla, é um filme recomendadíssimo. Mesmo com toda sua carga, intimidador e visceral, Saló consegue ser um filme bonito. A quem convém assim ver, é claro. Não postei imagens nem me prolonguei na análise pelo sono e pelo despertar às 6am amanhã. Então, besitos besitos, tchau tchau!

quinta-feira, 31 de março de 2011

homeopáticos

quando você pensa que teria sido melhor tê-lo feito há tanto tempo atrás, é porque já...

domingo, 13 de março de 2011

Análise Pelicográfica #6 - "American Psycho" (2000)

Não é o pôster oficial, mas creio ser o que mais bem cabe na história.

Título traduzido: Psicopata Americano
Direção: Mary Harron
Gênero: Ação, Drama, Suspense
Origem: EUA
Diálogo: Inglês
Duração: 1 hora e 41 minutos segundo a Wikipédia
Cor: Colorido
O download eu vou ficar devendo dessa vez, galeras. So sorry.

 Lengeda marítima: pequenos negros equivalem a link! Como considero as imagens que postei não decivas na trama, resolvi deixá-las visíveis (por preguiça de postar no Picasa, bjoux).
  Este é um filme que me lembra muito os posts da Lola, especialmente os sobre a comodidade de se ser branco, homem, heterossexual, rico, etc. Ou seja, de nacer com a vida ganha. Afinal de contas, nós pobres temos que enriquecer, todo o restante do mundo que não é caucasiano tem que se aceitar e superar os preconceitos (quando não há a exigência de embranquecimento, claro), toda mulher tem que dar muito (senão é mal comida) e ter filhos e casar (senão vira tia, aliás, tia é que ela não poder virar mesmo, se me entendem), todo gay tem que, sei lá, virar professor de português enrustido e casar com alguma mulher infantilizada.
  
 O filme, ao meu ver, vai além de uma crítica somente à elite, ou, para contextualizar / regionalizar, aos yuppies, mas sim à sociedade estadunidense, ou, por melhor dizer, à sociedade capitalista. Pois, numa sociedade socialista, espera-se que não haverá necessidade de adequação a grupos sociais. Não posso dizer quanto o âmbito cultural pois tive uma discussão infrutífera sobre o assunto e não tenho carga acadêmica razoável para me declarar sobre. Ainda assim, é inegável que o capitalismo fomenta uma opressão social para o enquadramento em padrões. Afinal de contas, é muito lucrativo promover um ideal de beleza, um produto hype, um estilo musical cool, um evento vip. No filme temos isso perfeitamente.

 O personagem principal, Patrick Bateman, é um executivo de sucesso. Não se sabe como ele chegou até onde está, mas temos pistas de que ele já vem de uma família rica (estudou em Harvard, que como todas as universidades no expoente capitalista EUA, é paga e caríssima), o que teria então facilitado sua ascensão e, claro, sido mais um motivo de opressão (afinal de contas, filho de peixe peixinho é, fruta não cai longe do galho, etc). Numa cena aos 10" (minutos), a noiva igualmente fútil de Patrick nos dá uma dica: seu pai seria então o presidente da empresa.
Branco, sarado, cabelo liso, rykoh. Só faltou ser alto e andar num cavalo branco!
  Para se enquadrar na sociedade em que vive, ou melhor, pra ser amado, e não ridicularizado, Patrick tem que passar por uma série de importantíssimas provações: conseguir reservas no melhor restaurante, fazer o melhor cartão, morar no melhor endereço, comer a melhor mulher. Fútil pra você? Não pra ele.
  Aparentemente esta é a vida que ele sempre levou, a sociedade na qual sempre viveu. Conhece pessoas da escola privada, da faculdade privada ou da empresa privada. Mas ninguém nunca perguntou a ele se era isso mesmo que ele queria. Ou, melhor dizende, nem ele mesmo sabe se era isso que queria. Algumas vezes temos a sensação de conhecer um dos seus motivos de vergonha: música brega. Patrick escuta um tipo de música que mantém só pra si, e que só demonstra quando resolve liberar-se: quando mata alguém.
Em todas as cenas que ataca alguém, sem exceção, ele dá uma aula sobre @ artista preferid@ dele. Numa das cenas faladas, ele leva uma antiga conhecida para casa, e quando começa o ritual açouguístico, a conhecida o ridiculariza pelo gosto musical dúbio. Se não me engano, é Whitney Houston a trilha sonora da carnifina. Mais tarde, quando investigado pelo assissano de alguém mais tarde comentarei sobre, o detetive mostra um CD de um dos seus artistas preferidos, e pergunta se ele gosta. O que ele responde? "Não, é 'preto' demais pra mim'. Irônico, não?
A noiva-enfeite tagarela enquanto ele escuta sua música-libertação.

Já no começo do filme vemos como nosso querido protaga tem sinais de desvio de sanidade: diversas vezes fala algo, ou pensa coisas que são, no mínimo, contundentes. Não sabemos se ele falou mesmo, ou se aquilo foi só um pensamento, como numa buatchy aparentemente GLS para a qual vão, mas que ironicamente não tem relevância na trama. Pequenos indícios de possíveis interpretações duplas.Outra coisa que é no mínimo curiosa, é uma personagem secundária, terciária ou sabe-se lá o que que aparece uma vez só na trama. Temos a impressão que Patrick a seduz, mas o que acontece com ela depois? No one knows.
vacilam sifudeo
 Num clima não muito animador temos o primeiro conflito do filme: o personagem de Jared Leto o confronta diretamente. Não obstante em ser parecido com ele fisicamente, é mais bem sucedido. É o que ele deveria ser. Tal fato deixa Patrick desestabilizado a ponto de matar mendigos na rua. A solução é uma só: Matar Leto e assumir sua personalidade. 

 Apesar de ser um crime de solução óbvia, os preconceitos e a sociedade impede que Patrick seja punido: numa crise, após matar várias pessoas na rua, ter alucinações e explodir viaturas da polícia com uma arma normal e poucos tiros (fuga da realidade?), ele confessa ao seu advogado tudo que fez. E depois, quando conversa com ele, é tudo encarado como uma brincadeira. O por quê? Porque o advogado havia almoçado com Leto 10 dias anteriores a confissão de Patrick (obviamente depois do assassinato), exatamente tal qual a desculpa dele (que Leto teria viajado a Londres). Estranho, não?

Na verdade, não era Patrick que estava fora da realidade, era a sociedade que está.
PS: me desculpem a conclusão abrupta da análise, mas estou cansado e fedido. Tem pão véi não. Vão procurar mais análises lá em outra freguesia. besitos, amo todos vocês! <3