sexta-feira, 26 de agosto de 2011

post vazio

Cada momento histórico de nossas vidas carrega consigo o sumo de toda nossa vivência. A cada momento histórico, o zeitgeist do tempo de cada um nos toca, como o anjo que nos tangencia com suas asas a cada rasante. A cada momento histórico prenuncia-se o seu próprio fim.


Meus eus estão cada vez mais longes uns dos outros, e sua morte é cada vez mais iminente. E o que eu posso fazer? ou me agarrar a eles com a maior força e número de lágrimas possíveis, ou me juntar a eles, no buraco negro, no vão na parede que ladeia o infinito, na pausa da música, onde todas as cores estão sobrepostas por uma fina camada de preto.


Eu consigo sentir o tempo escorrer no âmago do meu ser. E a cada torrente, a cada nova maré cheia, vazia, ressaca, algo de mim dilui-se. As cores me levam a um lugar-comum esquecido. Se tudo que está em mim esvai-se, o que eu sou? Se eu sou "a mim" e "aos outros", como posso preencher-me de mim [com o meu vazio] e com os outros [com sua distância]?


Heráclito de Éfeso é o maior pessimista que já houvera. Ele sentia o tempo escorrer, e via, assim como eu, que nada adianta arrastar-se pelo leito lamacento das memórias, pois, ali, não há nada além de detritos e água turva.

domingo, 21 de agosto de 2011

Inércia Proativa

Sabe, às vezes eu, de fato, sou como um vampiro que suga a pneuma alheia, tal como está no "sobre mim". Não quero dizer que eu seja invejoso, copioso ou qualquer desses adjetivos que os escritores de auto-ajuda de Lojas Americanas tanto gostam de falar (que não passam, ao meu ver, de maquiagens pra algo muito mais profundo: o cerceamento da vida que o capitalismo promove). O que acontece é que eu vejo a vida (dos outros) passar. E vejo minha vida na vida dos outros. De vez em quando tenho a impressão de que minha vida é algo absurdamente experimental, é quase uma terceira-pessoa. Eu me narro o que vivo. E penso qual é o tom dessa narrativa, sobre o quão verossimilhante ela é com a vida de fato (a que eu deixo de viver para narrar). Diria que estou numa fase de intensa vivência, mas ironicamente ainda aqui, nesse "lugar comum", a narrativa continua sendo tão latente e potente quanto aquilo que de fato vivo. E só resta a dúvida: vivo? Algum psicólogo comportamental chamaria toda essa poética do absurdo acima de proatividade, e não nego que o seja. Talvez seja o traço de algum arquétipo, algum complexo, que não seria? De humano, basta o chão. A inércia da proatividade lentamente engessa a vivência. Quando percebo estou com os pés enraizados no solo e com as mãos esfaceladas sobre a face ("palmaface"). E aí, quem lerá tanta narrativa? Eu mesmo, que já as conheço? Auto-epístolas é demais até pra mim.

[Pensamento interrompido em função de estar ouvindo "Everything goes my way", do Metronomy.]

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Allan Poe; Bíblia Malkaviana; Heráclito de Éfeso;

Bem vindo menino
ao mundo dos tolos
Onde o sexo é desprivatizado
onde o amor é coloca debaixo do tapete
Onde apaixonar é apenas um verbo bonito de se ler
Chegue mais
Desfrute das nossas ninfetinhas com bucetas deliciosas
Elas são apenas carne
Assim como você
Um dia sentirá falta dessa carne
A carne que um dia irá apodrecer
No dia em que perdertes a vontade de comer-las
Buscará por uma nova força para se alimentar
Outras carnes novas
Mas as carnes novas não são as mesmas
Então, quando esse dia chegar
você começará a varrer mais
E talvez, encontre o amor de novo
Aquele amor que você sempre pisou em cima.

Lucy Cieiro­­.