domingo, 30 de outubro de 2011

filosofia barata


Para ler ouvindo.
O amor é de fato estranhíssima situação. Antes que sentimento [páthos], destino, inspiração poética [poesys] ou breve obliteração da razão, é uma nova física. Pois sim, defendo que, além da newtoniana e da quântica, existe a física passional. É a única explicação humana possível para tão estranho viver, para esse "awkward moment" expandido.

A física passional funciona - presume-se - de maneira semelhante à newtoniana, mas quando aplicada a grandes corpos - diga-se de passagem, à gravidade. E, convém mencionar um pequeno, mas interessante diferencial: ela [a física passional] não é de teleologia clara, pois o amor é nebuloso e irascível, desconstruindo esperanças - ainda que sem torná-las móveis, ou ao menos menos "esperáveis" (toda espera é inércia, a esperança é uma condição ainda maior, como a de uma espera duplicada - pela distância do que se ansia e pela aceitação da passividade, logo uma dupla passividade, pois a passividade pautada pela impotência ante algo é uma condição de atividade violácea, como avaliaria Kandinsky, impossibilitada).

A física passional é uma ciência antipositiva, ou, se preferirem, um anticiência. E isso por causa da teleologia. Poderia até dizer que ela o é [anticiência] pela sua falta de lógica, mas isso traria problemas de relatividade e mesmo quanto a validez da lógica. Justamente como a física newtoniana em relação aos bosões (ou bósons, se preferirem) de Higgs e às demais quantumcidades subatômicas que constroem (ou destroem) nossa realidade. Se a teleologia pressupõe caminho, já alheia-se da física passional quando essa amiúde comporta-se tal como aquelas famigeradas partículas que encontram-se em dois lugares ao mesmo tempo.

Pode parecer fantasioso, mas é... lógico. O amor é como o "presente do passado" de Santo Agostinho: ainda que o amor-vívido (a paixão) já tenha se consumido, o amor-latente continua, pois tem a qualidade de brase-mansa, que ainda que não seja tão mais operadora de combustões ou piromaníaca em potência, é de vida delgada e ventilada - vejam bem, na rocha sólido em sua dureza há mais vento-nado que dura matéria.
<"Post cogitatio": nessa catalisação de metáforas e analogias, é interessante pensar na relação de piromancia e piromania, que aparecem adjuntas aqui. A física passional não só tem o caráter piromaníaco (que depois será explorado em analogia à calorimetria) quando fomentadora de páthos, quando consumidora de vivências (a matéria sólida, a energia em potência do sopro, a própria existência) e produtora de reminiscências (assim, operado da transcendência, da sublimação do terreno, do físico, do tegumentar para o nebuloso, toison d'or das lembranças e dos sentimentos passados e delgados), mas também o caráter piromântico de assacar a tudo que toca um embrião de futuro, como uma tag, que como uma bolha de ar, impede o decantamento de tudo onde está embutido na rocha sedimentar que é o passado. Esse é mais um dos porquês da inadaptabilidade da física passional à teleologia: como se atinge um destino, quando se já está nele? Bem própria da física quântica essa distância à lá "gato vivo e morto"...>
Continuando, o amor tanto é ventilado e aéreo que mal se tem notícia dele ontologicamente - ora!, se diria, se o amor tanto é assim tão aerado nada mais normal que pensá-lo como em arché tal elemento como já disse Anaxímenes -, mas não é esse o ponto, a metáfora do aerado é como metonímia para o pouco denso, para o espargido, àquilo que muito se tem de procurar e quando enfim achado mostra-se menor ou menos valioso que todo o vazio que lhe precedia. Esse é o amor, invisível como o quantum, potente como o celeste.
Para ler sentindo.
Na verdade, o vazio é uma convenção. O vazio, quando avaliado nesse contexto, é constituinte do amor, tão palpável ou insípido e inodoro quanto a rocha e os demasiados componente só lidos aqui citados. O vazio, enquanto espaço de não-amor, acaba sob domínio desse - o forte apego do hífen e a distância da negativa não impedem a continuação do amor. A partir do momento que todos os outros sentimento que não o amor passam a ser caracterizados como tal, eles passam a contê-lo.

Em suma, são esses os porquês de a teleologia não ser obstante ou mesmo funcional à física passional: a não-linearidade, a lógica incerta, as provas nebulosas. Também poderia dizer que em seu momento mais vívido (de paixão), o amor é um fenômeno de tal maneira ofuscante que torna-se quase impossível se atentar ás suas vicissitudes e minúcias, É como querer avaliar o Sol a olho nu, como querer medir a força d'um maremoto com a peito, como querer acreditar em Deus experimentando-o. A grandeza do fenômeno não só é uma fonte ínfima de observações, mas como também possibilidade da sua continuação temporal - para redundância  "presente do passado". Tão ofuscante é que requer algum distanciamento para sua observação, quiçá requer seu próprio fim. Ou seja, analisá-lo é findá-lo. E, pois não voltamos àquilo de falta de logica e extenuação da teleologia? Voltemos além: aqui está um dos porquês da proximidade entre física passional e astronomia (ou gravidade, para simplificas as referências) - ambas estão mais próximas do circular, do elíptico, do referencial e da entropia que do retilíneo, do linear. Assim, a lógica, o desenvolvimento da física passional é necessariamente redundante, e ainda mais, a lógica passional está tão relativizada que mais parece fazer um todo e estar a ele submetida do que ser algo independente ou mesmo focalizável - a este momento algum leitor ou leitora já deve ter contado o segundo argumento contra a continuação desse texto. Há que se perceber, porém, que se não tudo, quase tudo da existência (ou da não-existência) está sob as mais diversas influências e relações, frustrando assim os observadores mais separatistas (bairristas, enfim). O próprio cosmos, a totalidade maior da nossa analogia astronomicopassional (se considera-se o éter como parte constituinte), é constituído por ínfimas relações - as poeiras alteram-se ou alteram o comportamento de corpos como cometas e estrelas, por sua vez alteram-se ou alteram a rota ou mesmo a integridade se satélites, na sua dança torno o sol - ou sois, que centro do sistemas com ele gira contundindo galáxias que todas acabam por formar e se formar em universo - ou universos, sempre expandindo-se rumo ao vazio. Querer contabilizar cada relação seria computação quântica, vista a infinita expansão e permanente mutação.

E, afinal de contas, assim é o amor, sempre avançando e criando relações nos universos de cada vida individual. Quem não dirá de um relacionamento onde pouco a pouco cada minúcia da vida cotidiana tomou um gosto diferente e de que mesmo aquilo que nada tinha a ver com o amor acabou por dele tornar-se parte justamente por contê-lo na sua ausência?
Para ter forças pra viver.
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Post mais longo do Tomandonokoo-Bonjour, le bonheur? Isso mesmo prod? Escrito no caderno enquanto na Casa Fiat de Cultura esforçando para fazer passar o tempo de labor. By the way, frase proferida por um menino de uns 5~6 anos quando saindo da exposição e vendo a chuva que ameaçava:
- Tá chovendo Platão!
Façam suas próprias interpretações.

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