sexta-feira, 26 de agosto de 2011

post vazio

Cada momento histórico de nossas vidas carrega consigo o sumo de toda nossa vivência. A cada momento histórico, o zeitgeist do tempo de cada um nos toca, como o anjo que nos tangencia com suas asas a cada rasante. A cada momento histórico prenuncia-se o seu próprio fim.


Meus eus estão cada vez mais longes uns dos outros, e sua morte é cada vez mais iminente. E o que eu posso fazer? ou me agarrar a eles com a maior força e número de lágrimas possíveis, ou me juntar a eles, no buraco negro, no vão na parede que ladeia o infinito, na pausa da música, onde todas as cores estão sobrepostas por uma fina camada de preto.


Eu consigo sentir o tempo escorrer no âmago do meu ser. E a cada torrente, a cada nova maré cheia, vazia, ressaca, algo de mim dilui-se. As cores me levam a um lugar-comum esquecido. Se tudo que está em mim esvai-se, o que eu sou? Se eu sou "a mim" e "aos outros", como posso preencher-me de mim [com o meu vazio] e com os outros [com sua distância]?


Heráclito de Éfeso é o maior pessimista que já houvera. Ele sentia o tempo escorrer, e via, assim como eu, que nada adianta arrastar-se pelo leito lamacento das memórias, pois, ali, não há nada além de detritos e água turva.

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