Todos, quando crianças, já brincamos de interagir com os corpos ao nosso redor. Não o fazemos por pura hiperatividade, mas sim porque o tato é o único sentido existencialmente completo em si. Pois, a visão, por mais que capture, não expõe. A fala, por mais que possa enlaçar os outros e a nós mesmos, pela audição, não garante a compreensão e a mutualidade alheia (vide aqueles pobres cuja solidão já se tornou tamanha que a fala consigo mesmo se mostra necessária, mas que não garante sua melhora). A audição às vezes pode ser pior que a fala, pois não só deixa de garantir a comunicação (muitos de nós não compreenderíamos um "bosquímano australiano") como também não pode promover sons por si própria. O paladar, enfim, gostos não são exatamente existenciais, pois são tão concretos como aquilo que um esquizofrênico vê ou ouve. Talvez, o que mais vislumbra à existência no paladar é o gosto do próprio sangue. Mas não posso considerar tal característica como fomentadora da sensação de existência pois, como já falei, não se pode confiar naquilo que não se vê, não se ouve, se toca (talvez se cheire) - o gosto. Já o tato, não. Esse não só transmite a sensação do outro, mas como nos transmite ao outro. Vocês podem argumentar - "e as neuropatias periféricas?" pois bem, essas, em geral, caríssimos, não promovem a perda do tato, mas sim sua diminuição (ou potencialização). Ainda assim, o que posso considerar como "vontade máxima para a sensação existencial", que é segurar, abraçar, tocar alguém, só se é possível com a intenção de quem o faz. Ademais, mesmo que não se sinta o toque, há de se perceber seguro (imagino que não há patologias que impeçam de notar que algo te segura!).
E, não pensem que um crise existencial no caráter de "sentir o mundo", "se sentir no mundo", é algo irrisório, ou digno de escárnio, pois, ignóbeis são aqueles que ainda não perceberam a grandeza da existência.
terça-feira, 19 de abril de 2011
terça-feira, 12 de abril de 2011
é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional ...
Justamente quando eu adiciono o fatídico Cinema Cultura no blog roll desta espelunca, percebo que este está fora do ar. Desde quando? Não sei, provavelmente foi algo de hoje, ainda, já que ontem eu baixei Film d'amore e d'anarchia.
Sinceramente, a internet sofreu um atentado nesse mês. Não obstante o Vagalume Rosa, do Wordpress, agora o Cinema Cultura, que era do Blogger, que mostra uma faceta homofóbica e retrógrada do Google. Qual será o próximo passo pra zerar a cultura no espaço virtual de vez? Acabar com o Tomando no Koo? Diminuir a minha blogrolla? De fato, castrar as fontes deste mísero blogayro?
Enfim, este é o atual cenário da internet brasileira. Extinção de blogs relevantes, perseguição de blogs LGBTT's, pornográficos ou não, restrição de meios e da liberdade de expressão... aquela "internet anárquica" que idealizávamos nunca existiu, e pelo jeito que se toca a carruagem, nunca existirá.
Sinceramente, a internet sofreu um atentado nesse mês. Não obstante o Vagalume Rosa, do Wordpress, agora o Cinema Cultura, que era do Blogger, que mostra uma faceta homofóbica e retrógrada do Google. Qual será o próximo passo pra zerar a cultura no espaço virtual de vez? Acabar com o Tomando no Koo? Diminuir a minha blogrolla? De fato, castrar as fontes deste mísero blogayro?
Enfim, este é o atual cenário da internet brasileira. Extinção de blogs relevantes, perseguição de blogs LGBTT's, pornográficos ou não, restrição de meios e da liberdade de expressão... aquela "internet anárquica" que idealizávamos nunca existiu, e pelo jeito que se toca a carruagem, nunca existirá.
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Análise Pelicográfica #7 - "Salò o le 120 giornate di Sodoma" (1975)
Direção: Pier Paolo Pasolini
Gênero: Drama, Comédia, Explotation
Origem: EUA
Diálogo: Italiano (majoritariamente) , Francês e Alemão
Duração: 1 hora e 51 minutos segundo a Wikipédia
Cor: Colorido
Link: Com esta postagem eu brindo a inclusão do Cinema Cultura na blogrolla (ou da blogrolla no Cinema Cultura, depende do ponto de vista). Sentimo-nos lisonjeados, palmas!, palmas!.
Spoilers! Esta é, inegavelmente, uma magnum opus. Não consegui definir se Pasolini quis, com tamanho explotation, destilar o "espírito" do nazifascismo, que se assenta na bestialização do homem, ou se ele o retrata "ao avesso".
Na primeira assertação, é singela a premissa: a partir a desumanização das pessoas com tantos abusos, assassinatos, torturas e horrores amiúde, os próprios nazifascistas se bestializavam. A coprofagia, o gosto pela tortura, a necessidade de subjulgar as normas sociais e a sodomia* são todos vistos nas bestas. Assim, quando Pasolini representa toda a anarquia** gerada pelos personagens poderosos, ele não tem a mesma intenção de John Waters, outro grande nome do Explotation. Enquanto o ideal maior de Waters é chocar a hipócrita, moralista - e com os primeiros traços do que hoje seria a voga do "politicamente correto" - sociedade estadunidense, Pasolini busca apropriar-se dos exageros como ícones à real alta sociedade nazifascista.
*Quando me refiro a sodomia, quero dizer do estupro não-copulativo. Ou seja, de estupros que não tenham a intenção de gerar crias, tal qual no mundo animal, onde diversas vezes um ser aproveita do outro para satisfazer seus hormônios, quando não podendo consumir a cópula efetiva.
**Citando um excelente diálogo aos 38:13 minutos: "Observando, com igual paixão e apatia, Guido e Vaccari masturbando os dois corpos que nos pertencem, inspira um número interessante de reflexões. [O Magistrado então pede: "Importaria-se de se explicar melhor, caro Duque?", que então retoma] Nós fascistas, somos os verdadeiros anarquistas. Naturalmente, uma vez que nos tornamos mestres do estado, a verdadeira anarquia vem do poder.". Logo, a extensão do poder gerada pelo acordo das quatro personagens poderosas ilimita suas vontades. A anarquia é, evidentemente, usada no sentido de "superioridade ou não-respeito às leis cívicas e normas sociais".
Com a segunda hipótese, a qual Pasolini faria um "retrato avesso" do nazifascismo. Pois vejamos bem: um dos principais fundamentos do nazifascismo é o respeito e sublevação do sujeito ao Estado e/ou a sociedade. Gerando uma mescla de ambos, tal qual em regimes teocráticos onde a maioria da população é adepta da religião oficial, as normas sociais, ou seja, a distinção entre aquilo que é aceito ou excluído pela sociedade, é normativizado legislativamente. Tal qual a sociedade alemã machista e homofóbica da República de Weimar rejeitava, a política nazista do Terceiro Reich condenaria homossexuais aos campos de concentração. Mas, enquanto primava pela saúde daquilo que considerava humano, o nazismo se intoxicava com a degradação de todo o restante. A vocês, não parece contradição? Eles se apoiavam num conjunto de leis morais e numa pseudo-ciência (o darwinismo social tinha diversas falhas que o condenavam desde o nascimento) hipócrita e completamente bestial, que simplesmente anulava tudo aquilo que não convinha. Assim, enquanto eles pregavam o que era humano ou não, seus atos de selvageria há muito comprovavam sua desumanidade. E Pasolini mostra isso expondo um "negativo" da moral fascista e conservadorista no norte da Itália durante a ditadura de Mussolini.
Enfim galeras, apesar de forte e blablabla, é um filme recomendadíssimo. Mesmo com toda sua carga, intimidador e visceral, Saló consegue ser um filme bonito. A quem convém assim ver, é claro. Não postei imagens nem me prolonguei na análise pelo sono e pelo despertar às 6am amanhã. Então, besitos besitos, tchau tchau!
quinta-feira, 31 de março de 2011
homeopáticos
quando você pensa que teria sido melhor tê-lo feito há tanto tempo atrás, é porque já...
domingo, 27 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
Análise Pelicográfica #6 - "American Psycho" (2000)
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Não é o pôster oficial, mas creio ser o que mais bem cabe na história. |
Título traduzido: Psicopata Americano
Direção: Mary Harron
Gênero: Ação, Drama, Suspense
Origem: EUA
Diálogo: Inglês
Duração: 1 hora e 41 minutos segundo a Wikipédia
Cor: Colorido
O download eu vou ficar devendo dessa vez, galeras. So sorry.
Lengeda marítima: pequenos negros equivalem a link! Como considero as imagens que postei não decivas na trama, resolvi deixá-las visíveis (por preguiça de postar no Picasa, bjoux).
Este é um filme que me lembra muito os posts da Lola, especialmente os sobre a comodidade de se ser branco, homem, heterossexual, rico, etc. Ou seja, de nacer com a vida ganha. Afinal de contas, nós pobres temos que enriquecer, todo o restante do mundo que não é caucasiano tem que se aceitar e superar os preconceitos (quando não há a exigência de embranquecimento, claro), toda mulher tem que dar muito (senão é mal comida) e ter filhos e casar (senão vira tia, aliás, tia é que ela não poder virar mesmo, se me entendem), todo gay tem que, sei lá, virar professor de português enrustido e casar com alguma mulher infantilizada.
O filme, ao meu ver, vai além de uma crítica somente à elite, ou, para contextualizar / regionalizar, aos yuppies, mas sim à sociedade estadunidense, ou, por melhor dizer, à sociedade capitalista. Pois, numa sociedade socialista, espera-se que não haverá necessidade de adequação a grupos sociais. Não posso dizer quanto o âmbito cultural pois tive uma discussão infrutífera sobre o assunto e não tenho carga acadêmica razoável para me declarar sobre. Ainda assim, é inegável que o capitalismo fomenta uma opressão social para o enquadramento em padrões. Afinal de contas, é muito lucrativo promover um ideal de beleza, um produto hype, um estilo musical cool, um evento vip. No filme temos isso perfeitamente.
O personagem principal, Patrick Bateman, é um executivo de sucesso. Não se sabe como ele chegou até onde está, mas temos pistas de que ele já vem de uma família rica (estudou em Harvard, que como todas as universidades no expoente capitalista EUA, é paga e caríssima), o que teria então facilitado sua ascensão e, claro, sido mais um motivo de opressão (afinal de contas, filho de peixe peixinho é, fruta não cai longe do galho, etc). Numa cena aos 10" (minutos), a noiva igualmente fútil de Patrick nos dá uma dica: seu pai seria então o presidente da empresa.
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Branco, sarado, cabelo liso, rykoh. Só faltou ser alto e andar num cavalo branco! |
Para se enquadrar na sociedade em que vive, ou melhor, pra ser amado, e não ridicularizado, Patrick tem que passar por uma série de importantíssimas provações: conseguir reservas no melhor restaurante, fazer o melhor cartão, morar no melhor endereço, comer a melhor mulher. Fútil pra você? Não pra ele.
Aparentemente esta é a vida que ele sempre levou, a sociedade na qual sempre viveu. Conhece pessoas da escola privada, da faculdade privada ou da empresa privada. Mas ninguém nunca perguntou a ele se era isso mesmo que ele queria. Ou, melhor dizende, nem ele mesmo sabe se era isso que queria. Algumas vezes temos a sensação de conhecer um dos seus motivos de vergonha: música brega. Patrick escuta um tipo de música que mantém só pra si, e que só demonstra quando resolve liberar-se: quando mata alguém.
Em todas as cenas que ataca alguém, sem exceção, ele dá uma aula sobre @ artista preferid@ dele. Numa das cenas faladas, ele leva uma antiga conhecida para casa, e quando começa o ritual açouguístico, a conhecida o ridiculariza pelo gosto musical dúbio. Se não me engano, é Whitney Houston a trilha sonora da carnifina. Mais tarde, quando investigado pelo assissano de alguém mais tarde comentarei sobre, o detetive mostra um CD de um dos seus artistas preferidos, e pergunta se ele gosta. O que ele responde? "Não, é 'preto' demais pra mim'. Irônico, não?
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A noiva-enfeite tagarela enquanto ele escuta sua música-libertação. |
Já no começo do filme vemos como nosso querido protaga tem sinais de desvio de sanidade: diversas vezes fala algo, ou pensa coisas que são, no mínimo, contundentes. Não sabemos se ele falou mesmo, ou se aquilo foi só um pensamento, como numa buatchy aparentemente GLS para a qual vão, mas que ironicamente não tem relevância na trama. Pequenos indícios de possíveis interpretações duplas.Outra coisa que é no mínimo curiosa, é uma personagem secundária, terciária ou sabe-se lá o que que aparece uma vez só na trama. Temos a impressão que Patrick a seduz, mas o que acontece com ela depois? No one knows.
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vacilam sifudeo |
Num clima não muito animador temos o primeiro conflito do filme: o personagem de Jared Leto o confronta diretamente. Não obstante em ser parecido com ele fisicamente, é mais bem sucedido. É o que ele deveria ser. Tal fato deixa Patrick desestabilizado a ponto de matar mendigos na rua. A solução é uma só: Matar Leto e assumir sua personalidade.
Apesar de ser um crime de solução óbvia, os preconceitos e a sociedade impede que Patrick seja punido: numa crise, após matar várias pessoas na rua, ter alucinações e explodir viaturas da polícia com uma arma normal e poucos tiros (fuga da realidade?), ele confessa ao seu advogado tudo que fez. E depois, quando conversa com ele, é tudo encarado como uma brincadeira. O por quê? Porque o advogado havia almoçado com Leto 10 dias anteriores a confissão de Patrick (obviamente depois do assassinato), exatamente tal qual a desculpa dele (que Leto teria viajado a Londres). Estranho, não?
Na verdade, não era Patrick que estava fora da realidade, era a sociedade que está.
PS: me desculpem a conclusão abrupta da análise, mas estou cansado e fedido. Tem pão véi não. Vão procurar mais análises lá em outra freguesia. besitos, amo todos vocês! <3
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