segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

eu não quero viver a minha vida.

eu não pedi que fosse assim. se fi-lo, foi despropositadamente. em momento algum arquitetei nada, não pedi pra nascer. se esse foi o motivo da implosão, o contrário do parto não sei, sei sua anulação física, e é tudo que posso oferecer. ofereço, mas não o faço, por não estar em mim a morte de mim mesmo. a minha morte tem de estar nos outros. que os outros me morram. assim, quem sabe, não se torne este um terreno sólido pra reconstrução?

minha vida tem sido um pântano. um milharal no mangue, atolado até os joelhos, ando em círculos enquanto meus pés se afogam. fazer textos poéticos pela madrugada não resolve a vida de ninguém. se tivesse ao menos todos esses anos e mais anos de narrativas mentais, talvez já poderia ao menos ter alcançado alguma fama, conseguido algum dinheiro, comprado uma outra vida.

se sou afrodescente, escravodescente, não foi escolha minha. se nasci numa área de risco, pra levar uma vida de risco, a todo risco uma morte, não foi escolha minha. se cresci assim invalidado, não fui eu quem me invalidou, não cresci ao bel-prazer de escolhas, não fomentei minhas oportunidades, e vivi de ecos. não foi escolha minha.

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